Dom Antonio Possamai, obreiro da justiça e da paz!

"A meu ver, hoje estão faltando sacerdotes e profetas que denunciem o avanço da soja, do boi, da cana, dos bioenergéticos, das hidrelétricas, dos pesticidas e do uso de outros meios para matar." Dom Antônio Possamai na Assembléia da CPT-RO, 6/7/2013

Dom Antônio Possamai na Assembléia da CPT RO. 
Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria 414 - Edição de Domingo – 06/04/2014

Dom Antonio Possamai, obreiro da justiça e da paz!

Nomeado bispo no dia 04 de março de 1983, a ordenação episcopal aconteceu em sua cidade natal (Ascurra/SC) do dia 15 de maio, assumindo como lema o que o caracteriza como bispo: “O Senhor me ungiu para evangelizar os pobres”.

Na Congregação Salesiana, sua profissão religiosa aconteceu no dia 31 de janeiro de 1948, e a Ordenação presbiteral em 08 de dezembro de 1957. Cursou filosofia em São Joao Del Rey/MG de 1948 a 1950; teologia no Instituto Pio XI em São Paulo de 1954 a 1957; Curso de renovação teológica e espiritualidade na Venezuela em 1970; foi diretor de estudos, pároco e vigário paroquial. Vice provincial dos salesianos em Porto Alegre/RS de 1963 a 1972; Provincial em Recife/PE de 1976 a 1982. Como bispo de Ji-Paraná esteve a serviço da CNBB sendo presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes, presidente do Regional Norte I, vice-presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia; membro delegado da Conferencia de Aparecida (CELAM).

A Prelazia de Rondônia, criada no dia 03/01/1978 pela Bula Tametsi Munus Nostrum do Papa Paulo VI, foi desmembrada das Prelazias de Porto Velho e Guajará-Mirim, elevada à Diocese pela Bula do Papa João Paulo II, Ab ipsa Ecclesiae, no dia 19/02/1983, recebendo o nome de Diocese de Ji-Paraná. Seu primeiro Bispo Prelado foi Dom José Martins da Silva, SDN (1978-1982); a partir da data da criação da Diocese, Dom Antonio Possamai foi seu primeiro Bispo Diocesano: Eu cheguei quando começou a conquista da Amazônia. Lembro-me das florestas que aos poucos foram sendo derrubadas, mas ninguém tinha coragem de enfrentar essa realidade,testemunhou Dom Antônio durante uma entrevista.

Durante 24 anos (05/06/1983 a 11/04/2007) esteve à frente do povo de Deus da Diocese de Ji-Paraná, semeando a esperança, atuando na defesa dos sem-terra, dos direitos humanos, dos índios, das comunidades e do meio ambiente.

Hoje bispo emérito, Dom Antonio Possamai, está completando 85 anos (nasceu no dia 05 de abril de 1929), reside entre nós, na paróquia São João Bosco de Porto Velho, dando-nos a alegria de sua presença, o testemunho de sua esperança, de sua cordialidade e, sobretudo de sua colegialidade episcopal. A ele, que continua comungando as alegrias e dores do povo rondoniense, nossa prece e homenagem.

“É tarefa de cada Bispo anunciar ao mundo a esperança”(PG 3), exorta-nos João Paulo II no documento Pastores Gregis. De Dom Antonio, podemos afirmar, revendo sua trajetória pastoral que ele é um “obreiro da justiça e da paz” (PG 67), pacificador, defensor dos direitos humanos, zeloso da justiça, portador de esperança. Ao tomar a decisão de se posicionar contra a corrupção e os corruptos nos órgãos públicos, deixou claro seu compromisso com a verdade, com a justiça e o bem comum, recebendo apoio incondicional no Brasil e exterior.

E suas palavras sempre fortaleceram e continuam motivando a vivencia de nossa fé cristã:

O Espírito de Deus conclama os pastores, agentes e militantes de nossas Igrejas a um novo alento de esperança. Apesar de vivermos numa época em que grandes projetos históricos falharam, nossa esperança não se ba­seia apenas na realidade da história, mas na promessa de Deus e nos sinais de futuro que acompanham as palavras que nos manda procla­mar. Cremos na eficácia do valor evangélico, da comunhão e participação! Cremos na graça e no poder do Senhor Jesus que penetra a vida e nos impele para a conversão e a solidariedade!

Cremos na esperança que alimenta e fortalece a mulher e o homem em sua caminhada para Deus, nosso Pai! Cremos numa Amazônia justa, solidária, fraterna, geradora de vida! Com a confiança e a firmeza de Maria de Nazaré, Padroeira da Ama­zônia, cantamos louvores a Deus que faz maravilhas nos pequenos, derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes (18/09/1997).

A Igreja continua a anunciar a paz de Cristo, que no sermão da montanha proclamou bem-aventurados “os pacificadores” (Mt 5,9). A paz é uma responsabilidade universal, que passa através de mil e um atos humildes da vida de cada dia. Ela aguarda seus profetas e construtores, que não podem faltar antes de mais nada nas comunidades eclesiais, cujo pastor é o Bispo. A exemplo de Jesus, que veio para anunciar a liberdade aos oprimidos e proclamar o ano de graça do Senhor (Lc 4,16-21), ele sempre estará pronto a mostrar que a esperança cristã está intimamente unida ao zelo pela promoção integral do homem e da sociedade, como ensina a doutrina social da Igreja (PG 67).

Sempre ouvindo o clamor dos humilhados a quem Deus continuamente nos envia para os abraçarmos carinhosamente, movido pela solidariedade, Dom Antônio escreveu em 2003:

"Querido povo de Deus, escrevo a todos vocês que estão nesta diocese de Ji-Paraná. Devemos todos estar atentos para certos gritos que escutamos. Destaco, entre tantos, o grito para que sejamos um povo católico profundamente missionário. A consequência é a de estarmos sempre atentos às pessoas e realidades onde o Evangelho de Jesus Cristo ainda não penetrou e não transformou. Outro grito que escutamos foi o do crescimento da pobreza, que chega com frequência a uma realidade de miséria e de fome. A consequência é a de necessariamente vivermos uma fé verdadeira, fé que nos deve levar a transformar a realidade, sempre com a força do Evangelho de Jesus Cristo". 

E como Presidente da CNBB, Regional Norte I, Dom Antônio sempre motivou as Igrejas Locais e comunidades a uma ação pastoral e evangelizadora conjunta, na fidelida­de ao Espírito que fala às Igrejas:

"Queremos ser Igreja Inculturada, a favor da vida em plenitude nesta realidade pluricultural e desigual, em atitude decidida de serviço, diálogo, renovado ardor missionário e, tudo no testemunho de comunhão. Para alcançar esse objetivo, propõem-se estratégias concre­tas para o “grito” não soar em vão".
Por outro lado, não pode faltar uma mística correspondente, que alimente toda essa missão, para que sempre esteja à altura do Evangelho e lhe garanta qualidade e competência (1995).
De olhos fixos na nossa realidade humana e eclesial, buscamos res­postas dentro dos limites que são possíveis. Firmes na fé que nos con­duz, procuramos uma caminhada dentro da possível unidade. Acentuamos os serviços da unidade, da fé, caridade e da justiça. Temos certeza que nossa Igreja está atenta ao que o Espírito lhe diz neste ano de caminhada, como também caminha­mos na convicção que é o mesmo Espírito que nos projeta para a cons­trução de novos tempos, onde, certamente esta nossa Amazônia “não mais será chamada a desamparada... mas será chamada minha preferida.., a desposada, porque o Senhor se comprazerá em ti” (Is 62,4; Dom Antonio Possamai, Manaus, 13/10/1998).

Possam as palavras de Dom Antonio, nosso irmão no episcopado, dar-nos esperança e ajudar-nos a preparar a Páscoa do Senhor.

Nesta 5ª semana quaresmal, percebemos que a Páscoa é urgente para todos nossos irmãos que tudo perderam com as inundações. A liturgia nos convida a voltar às nossas origens como povo de Deus, lá no antigo Israel. Israel estava no exílio, na Babilônia: um povo morto. Então, Ezequiel viu os ossos mortos recobrarem a vida pelo “espírito” de Deus. E Deus explica: seu espírito fará reviver o povo de Israel, que vai voltar para a sua terra (Ez 37,12-14). Paulo Apostolo nos exorta a viver segundo o Espírito (Rm 8,8-11). Jesus no Evangelho de hoje (Jo 11,1-45) ensina-nosa viver a vida sem medo e torna-nos livres para gastar nossa vida ao serviço dos irmãos, lutando generosamente contra tudo aquilo que oprime e que rouba ao homem a vida plena.

"O Antigo povo de Israel diante de situações de exílio, que foram diversos, lamentava-se e buscava as causas de tanto sofrimento. O momento que estamos vivendo na nossa história é oportuno para nos lembrar que tivemos muitos e autênticos sacerdotes e profetas. É bom lembrar o que eles nos ensinaram. A meu ver, hoje estão faltando sacerdotes e profetas que denunciem o avanço da soja, do boi, da cana, dos bioenergéticos, das hidrelétricas, dos pesticidas e do uso de outros meios para matar. Desejo, pela intercessão de tantos que foram martirizados porque creram, que venham tempos de mais ardor profético, capaz de questionar e denunciar as forças da bancada ruralista aliada à bancada evangélica que atualmente dominam o Congresso Nacional e os demais poderes da república. Estejamos atentos porque nossos pais na fé nesta Amazônia não só nos contaram, mas também profetizaram, alguns deles foram e outros continuam sendo martirizados." (D.Antonio Possamai/Ass.CPT,6/7/2013).

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