Viver de maneira ética e digna!

Para tratar dos impactos sobre o bioma amazônico na vida das comunidades autóctones presentes na região e debater o tema: “Pan-Amazônia: fonte de vida no coração da Igreja” estivemos reunidos em Brasília (9-12/09), no encontro promovido pelo Departamento de Justiça e Solidariedade do CELAM, Comissão Episcopal da Amazônia da CNBB, Conf. dos Religiosos (CLAR) e a Caritas Latino-americana, com o apoio do Pontifício Conselho de Justiça e Paz.



Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria 438 - Edição de Domingo – 21/09/2014

Viver de maneira ética e digna!

A liturgia de hoje convida-nos a viver com retidão e dignidade: “Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo” (Fl 1,20-27).
Quando uma lei como a Ficha Limpa impede que corruptos se candidatem, estamos contribuindo para a ética na política uma vez que não se pode esperar ética de todos os políticos.
Jesus orienta seus seguidores sobre como se comportar no mundo e a fazer uma experiência radical de comunhão universal (Mt 20,1-16), pois, na comunidade de Jesus não há distinção de raça, classe social ou merecimento. O dom de Deus destina-se a todos, por igual.

Quando “lideranças e comunidades indígenas que lutam na defesa de seus direitos à terra são criminalizadas, são vítimas de assassinatos, prisões arbitrarias e ameaças de morte”, não estamos comungando com todos os povos e irmãos indistintamente (Carta da Articulação dos Povos Indígenas aos candidatos à Presidência da República).
Quando camponeses não vivem com dignidade e são despejados para dar lugar à soja e ao boi, trabalhadores rurais assassinados; “qui­lombolas, ribeirinhos e indígenas ain­da continuam com boa parte dos seus territórios tradicionais violentados, sem serem reconhecidos e demarca­dos”; quando “o latifúndio ocupa um terço das áreas de produção agrícola, com ocorrências de trabalho escravo, retirada ilegal de madeira e grilagem de terras” (CPT), não estamos vivendo a fraternidade.

Viver de maneira digna, portanto, é mudar de mente e voltar aos caminhos do Senhor (Is 55,6-9). Mudar de caminho, de atitudes, tomar outros tipos de decisões, fazer outras escolhas, pois nossa vida só tem sentido no relacionamento com Deus, e quando em seus caminhos, apesar de difíceis de entender, perseveramos na fidelidade (VP). Dessa forma, proclamamos: “O Senhor é justo em todos os seus caminhos e perfeito em todas as suas obras. O Senhor está perto de quantos O invocam, de quantos O invocam em verdade” (Sl 144/145).

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 20) que será realizada em Lima neste final de ano deverá avançar no sentido da normatização de uma legislação internacional para os mecanismos da economia verde. Processo que será finalizado na COP 21 de 2015, em Paris. Se não houver mudanças, o caminho estará traçado para as legislações nacionais e as corporações poderão contar com uma segurança jurídica para suas empreitadas em detrimento ao direito dos povos indígenas e tradicionais aos seus territórios, que contraria a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, a Constituição Federal e outras normas e legislações. Na convivência com os povos indígenas, percebemos que são eles, com seus conhecimentos e sabedoria, as fontes inspiradoras para uma vida digna, para uma real sociedade do futuro.

Para tratar dos impactos sobre o bioma amazônico na vida das comunidades autóctones presentes na região e debater o tema: “Pan-Amazônia: fonte de vida no coração da Igreja” estivemos reunidos em Brasília (9-12/09), no encontro promovido pelo Departamento de Justiça e Solidariedade do CELAM, Comissão Episcopal da Amazônia da CNBB, Conf. dos Religiosos (CLAR) e a Caritas Latino-americana, com o apoio do Pontifício Conselho de Justiça e Paz.

A consciência sobre a importância de uma ação comum da Igreja na Pan Amazônia é fruto de um longo processo de amadurecimento. Vários encontros realizados nos últimos anos, em nível de CELAM e também por parte da CNBB, vêm apontando para a necessidade de uma colaboração mais estreita entre as Igrejas de seus países. De igual modo, essa consciência foi crescendo entre as diferentes instituições religiosas, organismos e projetos missionários. Em vários níveis foram se estabelecendo caminhos de diálogo, de colaboração e a criação de laços, dando forma ao sonho de uma Igreja articulada e em comunhão na Panamazonia.

Nesse caminho foi muito importante a motivação dada pelo Papa Francisco, quando afirmou que a Amazônia constitui para a Igreja um teste decisivo para o futuro de toda a região. Para tanto recordamos o que nos diz o Documento de Aparecida: “Estabelecer entre as Igrejas locais de diversos países sul-americanos, que estão na bacia amazônica, uma pastoral de conjunto com prioridades diferenciadas para criar um modelo de desenvolvimento que privilegie os pobres e sirva ao bem comum” (DAp 475).

Durante o encontro, foi criada a Rede Eclesial Panamazônica tendo como visão: “À luz do Evangelho de Jesus Cristo morto e ressuscitado, queremos viver uma experiência de fraternidade e solidariedade encarnada e inculturada, como instrumento de diálogo e unidade eclesial, sinal e horizonte do Reino de Deus a serviço da Panamazonia, em defesa da vida, dom de Deus, seriamente ameaçada, o que implica “criar consciência nas Américas da importância da Amazônia para toda a humanidade” (DAp 475).

E como missão: A partir de uma plataforma de intercâmbio e enriquecimento mútuo e uma confluência de esforços das Igrejas locais, congregações religiosas e movimentos eclesiais, com voz profética e a serviço da vida e do bem comum, nos propomos como “Rede Eclesial Panamazônica”, potenciar de maneira articulada, a ação que realiza a Igreja no território panamazonico, atualizando e concretizando opções apostólicas conjuntas, integrais e multiescalares, no quadro da doutrina e das orientações da Igreja.

Sobre o papel da REPAM e da Igreja em âmbitos internacionais, sobretudo se acentuou a relação entre a Panamazônia e o meio-ambiente. Nesse sentido a reflexão sobre as mudanças climática foi central definindo caminhos concretos para contribuir na COP 20 (Lima), mediante a subscrição de documentos que apresentarão instituições de Igreja e a elaboração de uma Carta pastoral.

Celebramos no próximo domingo o Dia da Bíblia e o Dia de Oração pelo bom êxito do Sínodo da Família (5-19/10), cujo tema é: “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”. Papa Francisco convoca os fiéis das dioceses, paróquias, comunidades, institutos, organismos, movimentos, pastorais, serviços e associações para orarem na intenção de todas as famílias.

O Dia de Oração (28/09) foi escolhido como forma de estabelecer a comunhão, neste momento considerado importante na vida da Igreja: Senhor, enviai o Espírito do vosso Filho para iluminar a Igreja no início do caminho sinodal a fim de que, contemplando o esplendor do verdadeiro amor que resplandece na Sagrada Família de Nazaré, dela aprenda a liberdade e a obediência para enfrentar com audácia e misericórdia os desafios de hoje.

Com a proposta de refletir sobre o tema: “Família, Transmissora da Fé”, agentes e assessores estarão reunidos no XIV Congresso Nacional da Pastoral Familiar (26-28/09) em São Luís/MA). Em sintonia com o tema do sínodo, os participantes reforçarão o protagonismo da família no tocante àtransmissão da fé e à missão mundial da evangelização.

Na Mensagem Final do 1º Congresso Latino-Americano da Pastoral Familiar, no Panamá (4-9/08), cujo tema foi “Família e desenvolvimento para a vida e comunhão missionária”, percebemos o consenso de percorrer o caminho rumo ao sínodo, em união e oração, visando bons frutos para a Igreja e para o mundo. “Inspirados nos valores da Sagrada Família de Nazaré, queremos enviar a todas as famílias da América Latina e do mundo inteiro esta mensagem de esperança que as anime a formar-se mais, a viver os valores do Evangelho, a ter a certeza de que não estamos sós e que juntos podemos enfrentar as tormentas que ameaçam a identidade e a missão do matrimônio, da família e da vida”.

Ao participar do XV Congresso Encontro de Casais com Cristo da Região Norte, em Macapá do (15-17/08), desenvolvemos a temática “Família, berço da vida e protagonista da fé”, reforçando os valores da família e seu papel na comunidade eclesial: as famílias são protagonistas da nova evangelização!

Dentre os 253 participantes da 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, estão os cardeais brasileiros: Dom Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB; Dom João Aviz, da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada; Dom Odilo Scherer, de São Paulo; Dom Orani Tempesta, do Rio de Janeiro. Participam ainda o Mons. Edgard Madi, bispo de N. Senhora do Líbano/SP e o casal brasileiro Arturo e Hermelinda Zamberline.

O sínodo da Família é uma etapa que se concluirá no 14º Sínodo Ordinário (2015), cujo tema é “Jesus Cristo revela o mistério e a vocação da família”.

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