Eleições e Família, Missão e Juventude!

"Na Carta encíclica Ecclesiam suam, Paulo VI reafirma que “Tudo o que é humano, nos diz respeito”.

Criança em mobilização por direitos em Itapuá, Rondônia. Foto MAB

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria 442 - Edição de Domingo – 19/10/2014

Eleições e Família, Missão e Juventude!

Hoje, Dia Mundial das Missões, Dia Nacional da Juventude, beatificação do venerável Servo de Deus, Paulo VI e encerramento do Sínodo da Família.
Diante da proximidade do 2º turno das eleições e do percentual de votos nulos e abstenções no 1º turno, sinal da indiferença, omissão e protesto de grande número de eleitores, queremos recordar a Declaração da CNBB (2010) que encoraja “os leigos da nossa Igreja para que assumam ativamente seu papel de cidadãos colaborando na construção de um País melhor para todos”. Incentiva para que “todos participem e expressem, através do voto ético, esclarecido e consciente, a sua cidadania nas eleições, superando possíveis desencantos com a política, procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana”.
Estamos numa etapa decisiva das eleições que dispensamos “propagandas e debates caracterizados pelos ataques pessoais e promessas sem a indicação dos caminhos para sua concretização”. É hora de votar “nas reformas que o Brasil tanto necessita, como a agrária, a política, a melhoria da saúde, da educação, do transporte coletivo, da segurança, e na conquista do desenvolvimento sustentável, com plena soberania nacional” (frei Beto).
A 29ª edição do Dia Nacional da Juventude, celebrada hoje devido às eleições do próximo domingo, tem como tema “Feitos para sermos livres, não escravos”, em sintonia com a CF 2014: “Fraternidade e tráfico humano”. A fundamentação bíblica é do profeta Jeremias: “Eis o que diz o Senhor: Praticai o direito e a justiça e livrai o oprimido das mãos dos opressores” (Jr 22,3a).
Sendo atividade permanente do Setor Juventude da CNBB, o DNJ é um momento forte de celebração, de sentido de pertença dos jovens à Igreja e de sua visibilidade na sociedade.
Constatamos que a maior parte das pessoas traficadas e enganadas com atraentes propostas é jovem. Tanta coisa nos impede de enxergarmos o valor da pessoa! A cultura atual tende a propor estilos de ser e viver contrários à natureza e dignidade do ser humano. O impacto dominante dos ídolos do poder, da riqueza e do prazer efêmero se transformou, acima do valor da pessoa, em norma máxima de funcionamento e em critério decisivo na organização social (DAp 387).
Quantas vidas à nossa frente são desrespeitadas e colocadas à margem da sociedade! Basta andarmos um pouco por nossos bairros, cidades, estados para nos depararmos com vítimas deste “ciclo lucrativo” que é o tráfico de pessoas.
Diariamente milhares de pessoas são “despejadas” como mercadorias às “nossas portas” em nossas cidades. Vítimas da exploração do trabalho, exploração sexual, extração de órgãos e ainda com grandes números de crianças e adolescentes dentre os vitimados. É muito importante que estejamos atentos a todos os fatores que levam à incidência do tráfico.
O Sínodo da Família (05-19/10) concluiu seus trabalhos com um documento de reflexão sobre os “Desafios Pastorais da Família”. O texto não é conclusivo e contém encaminhamentos e propostaspara a 14ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos (04-25/10/2015), com o tema “A vocação e a missão da família na Igreja, no mundo contemporâneo”.
O relatório inicial abrange três ideias-chave: escutar o contexto sociocultural em que vivem as famílias hoje; olhar para Cristo e para o seu Evangelho da família e confrontar-se sobre as prospetivas pastorais a iniciar.
A família, realidade decisiva e preciosa, lugar das alegrias, dificuldades e afetos é uma escola de humanidade que deve ser em primeiro lugar escutada na sua complexidade. Diante dessas realidades, a Igreja deve olhar com esperança e sentido, indica o relatório. A Igreja dirige-se com respeito àqueles que participam na sua vida em modo incompleto e imperfeito, apreciando mais os valores positivos que conservam do que os limites e as faltas.
Evangelizar é responsabilidade partilhada por todo o povo de Deus; sem o testemunho alegre dos casais e das famílias, o anúncio, mesmo que correto, arrisca-se a ser incompreendido. As famílias católicas são chamadas a ser protagonistas e sujeitos ativos de toda a pastoral familiar. 
A comunhão de vida assumida pelos esposos, a sua abertura ao dom da vida, a defesa recíproca, o encontro e a memória das gerações, o acompanhamento educativo, a transmissão da fé cristã aos filhos... Com tudo isto, afirma Papa Francisco, a família continua a ser escola incomparável de humanidade, contribuição indispensável para uma sociedade justa e solidária (EG 66-68).
Paulo VI, o papa que concluiu o Concílio Vaticano II, mostrou-nos uma Igreja “não absorvida em si mesma, mas missionária, capaz de escutar e de dialogar com o mundo”.
O Servo de Deus, Paulo VI, cuja beatificação acontece hoje, no encerramento do Sínodo,presidiu reformas importantes no Concílio; seu pontificado foi de 1963 a 1978. Giovanni Battista Montini nasceu em Concesio, Brescia, Itália (26/09/1897) e faleceu em Castelgandolfo (08/1978).
O amor a Cristo, o amor à Igreja e o amor ao homem são os três aspectos testemunhados por Paulo VI e destacados pelo Papa Francisco aos peregrinos da Arquidiocese de Brescia.
Essas três palavras são atitudes fundamentais, bem como apaixonadas de Paulo VI, que soube testemunhar, em anos difíceis, a fé em Jesus Cristo. O papa Francisco evidenciou, sobretudo, a totalidade do amor de Paulo VI a Cristo. Uma totalidade já visível na escolha do nome como Papa: Paulo é o Apóstolo que levou o Evangelho a todos os povos e que por amor a Cristo ofereceu a sua vida.
O segundo ensinamento de Paulo VI foi o seu profundo amor à Igreja; um amor a ponto de doar-se à Igreja sem reservas com um coração de verdadeiro Pastor, de um autêntico cristão, de um homem capaz de amar. Para o papa Francisco, Paulo VI viveu plenamente as dificuldades da Igreja após o Concílio Vaticano II, as luzes, as esperanças, as tensões.
Paulo VI testemunhou o amor pelo homem. Um aspecto profundamente ligado a Cristo, porque é justamente a paixão por Deus que impele a servir ao homem. Nós podemos dizer as mesmas coisas que Paulo VI, afirma papa Francisco, pois a Igreja é serva do homem, a Igreja crê em Cristo que veio na carne e por isso serve ao homem, ama o homem, crê no homem.
Essa é a inspiração do grande Paulo VI, cujo testemunho alimenta em nós a chama do amor a Cristo, do amor à Igreja, do impulso a anunciar o Evangelho ao homem de hoje, com misericórdia, com paciência, com coragem.
Na Carta encíclica Ecclesiam suam, Paulo VI reafirma que “Tudo o que é humano, nos diz respeito”. Existe um primeiro, imenso círculo, de que não conseguimos descortinar os limites, pois se confundem com o horizonte. Dentro, está a humanidade toda, o mundo. Temos, de comum com a humanidade inteira, a natureza, isto é a vida, com todos os seus dons e problemas. Comungamos de bom grado nesta primeira universalidade, aceitamos as exigências profundas das suas necessidades fundamentais, aplaudimos as afirmações novas e por vezes sublimes do seu gênio. Possuímos verdades morais, vitais, que se hão de por em evidência e revigorar na consciência humana; são benéficas para todos. Em qualquer esforço que o homem faça para se compreender a si mesmo e ao mundo, pode contar com a nossa simpatia; onde quer que as assembleias dos povos se reúnam para determinar os direitos e os deveres do homem, sentimo-nos honrados, quando no-lo permitem, tomando lugar nelas. Uma vez que existe no homem uma alma naturalmente cristã, queremos honrá-la mostrando-lhe estima e dirigindo-lhe a palavra... Não somos a civilização, mas promotor dela (ES 54).
Neste domingo, Dia Mun­dial das Missões e da Obra Pon­tifícia da Infância Missionária, além de nossa contribuição con­creta na Coleta em prol das missões no mundo, a Igreja pede-nos que assumamos a missão como compromisso batismal para todos os dias.
A causa missionária é vital para a Igreja e para o mundo, escreveu Paulo VI em 1970, no dia das Missões. Não podemos esquecer a solene lição do Evangelho, sobre o amor ao próximo necessitado, repetida pela pregação dos Apóstolos e confirmada pela tradição missionária da Igreja.
A missão da Igreja é manter acesa e à vista de todos a candeia da esperança, para que possa brilhar como sinal seguro de salvação para toda a humanidade e iluminar a senda que a leva ao encontro com o rosto misericordioso de Deus (Papa Francisco).

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